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domingo, 21 de maio de 2017

Temer nos fez um favor

Temer nos fez um favor

Por Marilia Fontes

Eu acordei mais cedo, tomei um café da manhã reforçado e cheguei mais cedo no trabalho imaginando que ia ser um dia difícil.

Mas não podia cogitar nos meus cenários mais pessimistas que o mercado seria tão caótico quanto foi. Temos a mania do otimismo. De achar que “vai dar tempo de zerar”. Que pode “não subir tanto assim”. Sem chances … o mercado rapidamente implode. 

Logo na abertura, fiquei de olho nos juros, que era onde estavam as minhas posições. “Se abrir 50   bps, só perderemos x, se abrir 100, perderemos xx, mas dá pra continuar viva”, eu pensava.

Abriram 150 bps! O pré foi rapidamente para o limite de alta. No limite de alta, fica uma turma imensa na fila da tela com ordens de compra das taxas de juros esperando que alguém venda no maior nível possível. Mas é só esperança. Ninguém queria vender. Observar essa fila gigantesca, e ver que você está próximo dos últimos, acaba com qualquer fresta de otimismo.

Nesse momento, fiquei branca! Achei que minha carreira tinha acabado. Veio aquela dor no estômago incontrolável, e um pânico que nunca tinha sentido antes.

Se você acha que eu estou falando do mercado de ontem(20/05/2017), está redondamente enganado. Estou falando do dia 22 de outubro 2008, dia que o Congresso americano barrou o aumento do teto da dívida. Dia que o mercado nacional e internacional colapsou.

Eu era nova, e começara no mercado financeiro há pouco tempo, ainda ludibriada pelo filme Wall Street. Precisava me provar, queria conquistar o mundo, o céu era o limite!!… até o mercado entrar em colapso.

Trabalhava na Asset do maior banco privado do país, na mesa tinham quatro telas para cada operador. Com diversos micro números piscantes. O salão era enorme, com mesas operando todos os tipos de ativos. Era uma bagunça animada, com corretores cantando constantemente cada mercado em cada caixinha. Parecia uma grande feira. O sangue corria mais rápido nas veias, e tudo era feito pra ontem. Novas notícias eram rapidamente gritadas por quem ficava sabendo primeiro, e eram seguidas de novas gritarias, e novas ordens dos operadores nas suas respectivas caixinhas.

Mas naquele dia, o clima ficou pesado. Parecia um grande funeral. O diretor da Asset, figura que quase não víamos por lá, ranzinza e muito amedrontador, entrou vagarosamente no salão. Foi a passos de formiga passando pela mesa de cada um com cara de decepção. Estranhamente, e pelo acaso do meu vizinho de mesa que tirara férias, ele sentou exatamente do meu lado. Colocou a mão no rosto, e sinalizou que “não" com a cabeça. Era o fim dos tempos!

Todos nós olhávamos para a televisão, que passava ao vivo a votação americana. Cada parlamentar que votava "não" era um suor a mais que escorria. Uma quebra maior na espinha dorsal da esperança. Uma certeza maior do fim do mundo.

No final do dia, eu estava amassada. Tínhamos perdido muito dinheiro. Me sentia atropelada por um caminhão. Fraca, indefesa. Acabara com todas as minhas perspectivas de uma carreira no mercado. Todos na rua me olhavam como se soubessem a derrota que tive. A comida perdera todo o seu gosto.

Tentei dormir como se nada tivesse acontecido. Estranhamente, consegui! Dormi bem e acordei renovada. Me enchi de esperanças. “Pode não ser tão ruim assim”, eu pensei, “pode voltar tudo hoje”.

Fui novamente mais cedo para o trabalho. Cheguei cheia de energia. Hoje seria o dia da virada!

Liguei minhas caixinhas, dei bom dia para os corretores, ensaiei um bom humor de quem acha que faz a vida acontecer. “Vamos que vamos, que hoje já vai abrir com queda!!!”

O mercado abriu com taxa de juros subindo 150 bps! E novamente, foi pro limite de alta!

Silêncio, queda na pressão, olho arregalado, dor no estômago. Era o fim do que já era o fim.

Quando você perde muito, diversas coisas passam pela sua cabeça. Todas as pessoas que te sugeriram zerar a posição, todos os debates com alguém contrário a você. Todas as micro notícias indicando que isso poderia acontecer. Você se martiriza por não ter zerado antes, por não ter prestado atenção nos sinais e principalmente: por não ter comprado um seguro!

Quando a posição vai muito ao seu favor, você tende a se achar o gêniozão. Quando na verdade, é exatamente a hora de pegar parte do lucro para proteger a sua carteira e comprar seguros.

O Felipe fala exaustivamente sobre isso. E ele tem razão. Os seguros, na maioria das vezes, não serão usados. Serão um pequeno redutor de lucro. Até que chega aquele dia, totalmente imprevisível, que os seguros salvam todo o seu patrimônio de uma grande catástrofe.

A renda fixa já tem embutido em si um pequeno seguro. Se levarmos ao vencimento, ela vale a taxa acordada. Além disso, os juros têm um arbitrador natural, que é a taxa Selic. Ao contrário das ações, que podem virar pó ou valerem infinito, a renda fixa segue no longo prazo a Selic, que não pode ser infinito. Ou seja, no médio prazo as taxas de mercado retornam ao fundamento, funcionando como um moderador de risco.

Mesmo assim, para evitar a volatilidade, poderíamos usar seguros em renda fixa, como puts de Bolsa ou calls de dólar. Na própria renda fixa, não há muitas formas de seguros imediatos, uma vez que as opções de juros são de curto prazo, pegando mais os movimentos do Copom.

O que aconteceu com Temer no mercado de quinta-feira foi um grande favor à você, que está começando. Você percebeu logo cedo um ensinamento muito valioso: Black Swans acontecem!!!

Quando dá aquela vontade gananciosa de se lotar de risco e ir pro “all-in”, lembre-se sempre de dias como o de hoje.

Você deve estar se perguntando o que aconteceu comigo, afinal, em 2008.

Bom, aconteceu o que geralmente acontece nesses casos. O mercado retornou ao fundamento.

No segundo dia de alta de 150 bps, o Congresso americano votou novamente o teto de gastos e desta vez conseguiu a aprovação. Já no final do dia, o pré voltou 211 bps do máximo, e no final do mês já tinha caído (pasmem!) 665 bps no total.

Quem decidiu cortar todas as suas posições no meio do pânico, foi quem realmente sofreu com aquele mercado.

O resto simplesmente recuperou tudo, e ainda acabou com um ganho relevante, conforme os dias foram passando.

No meio do tiroteio, lembre-se sempre de se voltar para o fundamento. Embora fluxos e riscos tomem conta do mercado no curto-prazo, no longo prazo só nos resta o fundamento.

Então vamos olhar para o fundamento do que aconteceu quinta no Brasil: o presidente se tornou fraco, com potencial de renúncia ou impeachment.

Isso muda o fato da recuperação da atividade estar vindo mais fraca? Não. Mas pode atrapalhar ainda mais a recuperação futura, uma vez que o empresariado ficará mais cauteloso. Isso é ruim pra atividade, mas bom para o ciclo de queda de juros.

Isso muda o fato da desinflação seguir acontecendo? Não. A não ser que o dólar se desvalorize tanto (mais próximo do 4) que comece a gerar inflação. Então, vamos ficar de olho no dólar. Até lá, tranquilo.

Isso muda o fato das contas públicas estarem no caminho da equalização? Pode ser que sim. Aí que temos o maior risco. Pois um Presidente fraco não conseguirá aprovar a reforma da Previdência, o que pode gerar um desequilíbrio futuro. A reforma ficará mais a cargo do novo Presidente. Pode ser que ele consiga, ou não.  Neste caso, mesmo com a queda nos juros de curto prazo, faz sentido os juros longos se manterem com mais prêmio. Eles tem que incluir uma probabilidade das reformas não passarem, e a inflação acelerar lá na frente. 

Mas o valor atual de prêmio faz sentido? O que tivemos agora é adequação de risco, ou uma grande oportunidade?

É sobre isso que você tem que se perguntar, e perguntar ao seu analista. Eu, nos meus relatórios, falo exatamente sobre isso.

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